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Norma Mundial de Elevadores ISO 8100-1/2 promete uma nova era no setor
Por Fábio Aranha*
Pode parecer surpreendente falar em uma nova norma para elevadores logo após a implementação da ABNT 16.858 no Brasil. No entanto, a norma brasileira foi baseada nas normas europeias EN 81-20/50, publicadas na Europa em 2014 e que se tornaram obrigatórias em 2017.
Cerca de 90% dos países do mundo adotam normas europeias de elevadores. Exceções significativas são os Estados Unidos, que seguem as normas ASME, e o Japão, que utiliza o padrão JIS.
As normas globais de qualquer setor são publicadas pela ISO (International Organization for Standarization), e no caso dos elevadores, há um projeto avançado: a ISO 8100-1/2, que está em vias de ser publicada pelo Comitê ISO TC 178. (https://www.iso.org/committee/53970.html)
WEEF – WORLD ELEVATOR ESCALATOR FEDERATION
Formada em abril de 2019, a World Elevator Federation, com a AEM (Associação de Elevadores do Mercosul) como membro fundador, visa beneficiar consumidores, a indústria e garantir o desenvolvimento sustentável. As associações se comprometem a uma abordagem colaborativa e aberta com todas as partes interessadas para desenvolver padrões internacionais relevantes para seus produtos. O objetivo imediato é promover e melhorar a segurança, facilitar a inovação tecnológica e a livre circulação de mercadorias em todo o mundo, com estreita colaboração entre especialistas em padronização.
OBJETIVOS DA WEEF
- Harmonização Técnica Global: Baseada na ISO 8100-1/2, que é uma evolução da EN 81-20/50 e da atual norma brasileira NBR 16.858.
- Certificação Única: Um único certificado de conformidade aceito globalmente (um padrão, um teste e um certificado).
- Promoção da Segurança e Qualidade: Elevar os níveis de segurança e qualidade em todo o mundo.
A EVOLUÇÃO E OS PRAZOS
A previsão inicial era a publicação no primeiro trimestre de 2025, mas surgiram obstáculos, como reservas legais da União Europeia, com mais de 1.000 comentários sobre as normas. A EN 81-20/50 não atendia aos novos regulamentos internos da CEN. Além disso, houve mais de 600 comentários do CEN/TC10 sobre a EN ISO 8100-1/2 e o ISO TC 178, todos os quais precisaram ser verificados e respondidos detalhadamente.
O comitê ISO TC 178 conta com a participação de 31 países e outros 27 como observadores, incluindo Brasil (ABNT) e Argentina (IRAM). Após a publicação, haverá um período de consulta pública de doze semanas. A entrada em vigor da EN ISO 8100-1/2 é esperada para 2025, com um período de transição de três anos e revogação da anterior EN 81-20/50:2020 em 2028, quando será substituída pela EN ISO 8100-1/2:2025.
CARACTERÍSTICAS E PRINCIPAIS MUDANÇAS
A ISO 8100-1 aborda os requisitos de segurança para a construção e instalação de elevadores, especificando critérios essenciais para garantir a segurança de passageiros e equipe de manutenção. A ISO 8100-2 foca nos requisitos de inspeção e teste, avaliando se os elevadores atendem às normas de segurança após a instalação e durante seu uso.
Essas normas são complementares e essenciais para um ciclo completo de segurança no setor de elevadores, desde a fabricação até a operação contínua.
Entre as principais mudanças, estão:
- Requisitos detalhados para segurança das portas.
- Soluções para evitar o aprisionamento de dedos/mãos nas portas de pavimento e de cabine.
- Elevadores com polia de tração com espaço ampliado no piso.
- Novas suspensões alternativas e equipamentos de balanceamento com acessórios
- Novos requisitos para freios de máquinas elétricas e abertura hidráulica do freio de acionamento
- Acesso seguro ao poço do elevador usando uma escada (novos requisitos)
- Plataformas de manutenção no poço do elevador
- Circuitos de segurança avaliados SIL (safety integrity level) – substituição para PESSRAL (Programmable Electronic Systems in Safety Related Applications for Lifts)
- Dispositivos de resgate automático em caso de falta de energia.
- Um sistema de medição de carga mais preciso.
A EXPERIÊNCIA BRASILEIRA E DESAFIOS NA IMPLEMENTAÇÃO
Na última reunião da WEEF em Xangai, apresentei a experiência brasileira na implementação da nova norma 16.858. Para ter sucesso na implementação de uma norma padrão mundial em diversos países com realidades sociais e econômicas distintas, é crucial considerar vários fatores.
Desafios na implementação incluem:
Incertezas de Interpretação: A norma pode conter requisitos técnicos complexos que geram dúvidas.
Falta de Organismos Certificadores: Em alguns países, não há organismos reconhecidos pelas autoridades nacionais.
Custos para Pequenas e Médias Empresas (PMEs): A implementação e certificação podem ser onerosas.
Desafios Específicos para PMEs:
- Desvantagem Competitiva: PMEs enfrentam dificuldades adicionais em um mercado dominado por grandes fabricantes.
- Custos de Certificação: A atualização de equipamentos e o cumprimento de normas podem ser um fardo significativo.
- Acesso Limitado a Expertise Técnica: Muitas PMEs têm dificuldades em encontrar especialistas capacitados.
Fatores a considerar para alcançar um padrão mundial com sucesso
Adaptabilidade: A norma deve ser adaptável às diferentes infraestruturas e recursos disponíveis em vários países.
Escalabilidade: O padrão deve ser aplicável a organizações de diferentes tamanhos na indústria de elevadores.
Desenvolver um padrão global que considere as variações sociais, econômicas e técnicas é crucial para melhorar a segurança e a proteção, ao mesmo tempo em que aborda os desafios regionais. A colaboração entre autoridades, associações e empresas é essencial para oferecer orientação, estabelecer organismos de certificação e encontrar maneiras de reduzir os custos de certificação, especialmente para empresas de menor porte.
*Fábio Aranha é Engenheiro pela Poli USP, Sócio fundador da Infolev, ex-presidente do SECIESP, atual Presidente da AEM- Associação de Elevadores do Mercosul (Membro da WEEF) e palestrante do Fórum Mundial de Elevadores na Interlift.